Enquanto 133.819 drones já estão cadastrados na ANAC, a maioria opera sem registro agrícola — e as abelhas permanecem invisíveis na discussão ambiental brasileira
- O Paradoxo dos drones: Milhares voando, poucos regularizados
- As consequências invisíveis da pulverização irregular
- As abelhas: Os polinizadores essenciais que o Brasil ignora
- Um debate incompleto gera políticas públicas ineficazes
- GeoIBRAM: Tecnologia para proteção real
- Conclusão: Sem abelhas, não há futuro sustentável
O Brasil vive um momento crítico na interseção entre tecnologia agrícola e preservação ambiental. Com mais de 133 mil drones cadastrados e o crescimento exponencial da pulverização aérea, o país enfrenta uma combinação alarmante: expansão descontrolada do uso de aeronaves remotamente pilotadas, deriva química atingindo comunidades rurais e perdas significativas em apiários por todo território nacional.
Apesar desse cenário preocupante, há uma ausência gritante no debate público sobre agrotóxicos: as abelhas, responsáveis por cerca de 70% da polinização agrícola mundial, seguem completamente ignoradas nas discussões institucionais.
O Paradoxo dos drones: Milhares voando, poucos regularizados
Dados oficiais extraídos do painel da Agência Nacional de Aviação Civil (ANAC) revelam que, até 18 de novembro de 2025, o Brasil já contabilizava 133.819 drones cadastrados para diversas finalidades.
No entanto, quando cruzamos esses números com os registros do Ministério da Agricultura e Pecuária (MAPA), surge um vácuo regulatório alarmante. A Portaria MAPA nº 298/2021 estabelece a obrigatoriedade de registro para qualquer drone utilizado na aplicação de agrotóxicos, fertilizantes, inoculantes, sementes e adjuvantes. Na prática, apenas alguns milhares estão devidamente registrados no órgão.
O Que isso significa?
A imensa maioria dos drones agrícolas opera à margem das normas federais, sem:
- Habilitação técnica adequada
- Controle de aplicação
- Plano de manejo registrado
- Comunicação prévia obrigatória
- Fiscalização ambiental
Este cenário contraria diretamente a legislação brasileira, incluindo a Instrução Normativa Conjunta MAPA/ANVISA/IBAMA nº 01/2012, a IN MAPA nº 02/2008, além da própria Portaria MAPA nº 298/2021 e da Resolução ANAC nº 710/2023.
As consequências invisíveis da pulverização irregular
A ausência de controle efetivo sobre operações com drones tem gerado consequências graves e muitas vezes silenciosas:
Impactos sociais e ambientais:
- Pulverização irregular próxima a residências, escolas e comunidades rurais
- Deriva química atingindo populações vulneráveis
- Contaminação de fontes de água e áreas de preservação
- Aplicações em desacordo com distâncias mínimas de segurança
- Uso criminoso de herbicidas para desmatamento químico, prática que elimina vegetação nativa para abertura de novas áreas produtivas
Impactos na apicultura:
- Mortalidade massiva em colmeias e meliponários
- Contaminação de produtos apícolas
- Colapso de colônias inteiras por exposição aguda
- Perdas econômicas para apicultores familiares
Neste contexto, as abelhas emergem como as primeiras e mais vulneráveis vítimas de um modelo de produção cada vez mais dependente de insumos químicos.
As abelhas: Os polinizadores essenciais que o Brasil ignora
As abelhas desempenham papel fundamental na manutenção da vida no planeta. No Brasil, esses insetos são responsáveis por:
- 70% da polinização agrícola, garantindo a produção de alimentos essenciais
- Grande parte da fruticultura nacional, incluindo culturas de alto valor econômico
- Reprodução de milhares de espécies vegetais nativas
- Equilíbrio ecológico de biomas como Caatinga, Cerrado e Mata Atlântica
- Segurança alimentar para as próximas gerações
A morte de colmeias transcende o universo apícola — representa uma ameaça direta à agricultura, à biodiversidade e à economia nacional.
O impacto dos agrotóxicos nas abelhas
Estudos científicos consolidados demonstram que a exposição a agrotóxicos causa:
- Desorientação e perda da capacidade de navegação
- Comprometimento do sistema imunológico
- Mortalidade por contato direto com resíduos químicos
- Contaminação crônica por herbicidas e inseticidas
- Colapso completo de colônias por efeito de deriva
Mesmo diante dessas evidências, o debate brasileiro sobre pulverização aérea e uso de agrotóxicos continua ignorando sistematicamente o ser vivo mais sensível e afetado por essas práticas.
Um debate incompleto gera políticas públicas ineficazes
Em audiências públicas, reuniões técnicas, debates legislativos e até em eventos internacionais como a COP30, discute-se tecnologia, produtividade, fiscalização e saúde humana. As abelhas, porém, permanecem ausentes da conversa.
Esta omissão gera três problemas estruturais:
1. Erro científico
O indicador biológico mais sensível ao impacto químico é completamente ignorado nas análises de risco ambiental.
2. Erro jurídico
Normas federais específicas para proteção de apiários e polinizadores deixam de ser aplicadas e fiscalizadas adequadamente.
3. Erro ambiental
O verdadeiro impacto sobre a biodiversidade é subdimensionado, levando a políticas públicas que não endereçam o problema real.
É impossível construir políticas públicas eficazes quando o principal bioindicador de desequilíbrio ambiental — as abelhas — fica fora da equação.
GeoIBRAM: Tecnologia para proteção real
Diante da expansão descontrolada de drones no país e da ausência de fiscalização adequada, o IBRAM Brasil está implementando o GeoIBRAM, uma plataforma nacional de proteção aos apiários e conformidade ambiental.
O sistema integra tecnologia de geolocalização e gestão ambiental, oferecendo:
- Cadastro gratuito de apiários e meliponários
- Sistema de comunicação prévia obrigatória em raio de 6 km (conforme IN 01/2012)
- Geocercas automáticas de proteção
- Registro controlado de drones e operadores
- Prevenção de deriva química e conflitos territoriais
- Geração de provas digitais para fiscalização ambiental
- Cumprimento automático das normas MAPA e ANAC
O GeoIBRAM representa a primeira ferramenta nacional que coloca efetivamente as abelhas e as comunidades rurais no centro da proteção ambiental, criando um ecossistema de responsabilidade compartilhada entre produtores rurais, aplicadores de agrotóxicos, apicultores e órgãos fiscalizadores.
Conclusão: Sem abelhas, não há futuro sustentável
A expansão acelerada do uso de drones, a pulverização irregular e o emprego inadequado de agrotóxicos representam hoje uma ameaça concreta ao equilíbrio ambiental brasileiro.
As evidências são claras:
- Não existe agricultura sustentável sem polinizadores saudáveis
- Não existe biodiversidade funcional sem colmeias viáveis
- Não existe segurança alimentar sem abelhas
O IBRAM Brasil reforça seu alerta: qualquer discussão sobre pulverização aérea e uso de agrotóxicos que não inclua as abelhas está cientificamente incompleta, juridicamente deficiente e ambientalmente equivocada.
É urgente e necessário recolocar os polinizadores no centro das políticas públicas ambientais e agropecuárias do país. A implementação do GeoIBRAM representa o primeiro passo concreto nessa direção, protegendo simultaneamente o campo, as famílias rurais, a biodiversidade e o futuro do Brasil.
Sobre o IBRAM Brasil
O Instituto Brasileiro de Apicultura e Meio Ambiente (IBRAM Brasil) é uma organização dedicada à proteção dos polinizadores, promoção da apicultura sustentável e defesa do equilíbrio ambiental no campo brasileiro.
Contato:
Para mais informações sobre o GeoIBRAM e cadastro de apiários, acesse nossos canais oficiais.

